quinta-feira, 14 de maio de 2015

Memórias de Uma Singela Calçada

Bellinha, como era conhecido por todos, costumava esperar todos se deitarem, os ruídos cessarem para levantar, pegar casaco e lanterna e ir a seu lugar favorito. Levantava lentamente o edredom, calçava com extremo cuidado as pantufas, se arrastava levemente até a porta do quarto, corredor e depois descia as escadas. Com mãos mais delicadas que uma pétala de flor, destrancava a porta. Seguia a passos silenciosos até o portão e chegava a sua tão amada calçada.
Para ela, um lugar perfeito, não tão longe de casa, contudo fora. A segurança da proximidade com o lar aliada a distância simbólica de tudo e todos, em sincronia perfeita com a solidão da noite trazia-lhe uma paz inesperada, na qual quase todas as noites ela mergulhava. Belinha amava esse lugar, lhe trazia muito boas lembranças, gostava de estar ali, tanto sozinha, quanto acompanhada. Uma pequena fuga para uma jovem de 15 anos que não tem ainda sua liberdade para sair, e ainda sim tem seu espírito para lhe exigir uma fuga, sendo ou não pequena, parecia valer a pena.
Em alguns dias somente admirava a lua e as estrelas, cantarolava uma o outra melodia ouvida no rádio mais cedo, sentava e sonhava com a maravilha possível para o próximo dia. Sorria sozinha, nem sempre era assim, tinha noites que chorava, só que nada ali a entristecia, na verdade só aliviava. O dia difícil, a discussão com os pais, o mal entendido com as amigas, pensava sobre isso, permitia que fluísse na mente e assim partir.
Para dias nostálgicos, revivia o passado. Como quando pulava amarelinha com sua prima na calçada, ou quando contornavam o campo de bicilheta, do beijo com Carlinhos na semana passada, e tudo mais que aconteceu em sua adorada calçada.
Se a calçada falasse, será que contaria seu ponto de vista, se alegraria. Talvez reclamasse de como o tempo passa rápido, contasse de quantas crianças tornaram-se adolescente e logo adultas passando por ela. De como a vida muda, o tempo também e no fundo sempre guarda alguma coisa que o faz parecer tão igual. Possivelmente questionaria os dias atuais, nos quais crianças já não ralam joelhos e nem correm atrás de bolas em ruas e calçadas, mas ficam hipnotizadas por pequenos objetos que cantam e brilham.
Porém, Belinha nada sabe disso, é só mais uma adolescente dos anos 90, vivendo a vida, sentindo tudo de melhor e pior sem nada para interromper seu mundo real. Neste dia, neste tempo, ela provavelmente achasse bobo estar em grupos de bate papo em um objetozinho quando poderia sair pra tomar sorvete com todas as suas amigas.

Mas deixemos Belinha e seus pensamentos na calçada, que aproveite o que tem, o que hoje já não vale nada.

sexta-feira, 3 de abril de 2015

Heaven or Hell

Mitos e lendas envolvem o imaginário popular,
boas estórias sobre o momento incerto que dizem
vir após o ultimo suspiro humano: a eternidade,
tornam-se medos e desejos.

Sofrer ou regozijar-se em um momento determinado como eterno,
tudo depende das ações tomadas nesse lugar sombrio chamado Terra,
em meio ao egoísmo dessa raça vil e desumana.
Nada além de um consolo, um conformismo comum, a justiça virá, nos dizem.
Se foi mal ou bom, pagará por isso.

Quantas almas enganadas, desperdiçam a vida sendo quem não querem ser,
realizando ações que não lhe dão alegria ou prazer na esperança que um dia
recebam um prêmio maravilhoso e que aqueles que lhe fizeram mal paguem
no fogo eterno.
Contraditório é bem pouco para definir isso, julgando que somos racionais, é insano.

Então passamos a vida inteira aguardando uma recompensa não garantida pelo bem praticado ou um castigo terrível reservado à todos.
Bom ou mal, seja qual for o sentimento ou sensação, pode ser vivido hoje e agora,
o que aguardamos a vida todo para encontrar esta aqui, só precisamos levantar e viver.
Seja o Paraíso ou o Inferno, esta bem dentro de nós.

sexta-feira, 27 de fevereiro de 2015

Sabores de Memórias

Dia normal,tarefa comum: Ir ao supermercado comprar suprimentos para sobreviver a mais um mês. Entra no carrinho, batatas, cenouras, beterrabas, arroz, feijão, banana, maçã, macarrão, oléo, sal, tomate, azeite, alguma parte de um frango, outra de um boi, talvez uma de porco, vai depender do humor.

E a tarefa segue assim, um pouco no automático, um pouco no sentir. Dentre as muitas coisas já banais para todos nós, cotidianas, comuns e nada mais que obrigação, por motivos não exatamente entendidos algo diferente do nosso entendimento de comum chama atenção. Não importa o que possa vir a ser pra cada um, um chocolate, uma fruta exótica, uma bala, etc. Geralmente é um sentimento bom que o elemento diferente nos traz, um sabor, uma lembrança.

Certa vez, nessa tarefa cotidiana, algo simples tocou meus sentidos e minha mente, alguns ovos de codorna. Em segundos veio na memória um sabor, e em milésimos a lembrança da ultima vez que me deliciara com ele. Não sós, ao molho rose, deliciosamente simples. A simplicidade gastronômica se opõem ao valor sentimental do momento e da companhia do dia quase chuvoso, mas radiante em que comia esse tão conhecido petisco.

Em meus devaneios fico a questionar se somente nós humanos temos essa conexão com os elementos a nossa volta, nem tenho certeza se conexão seria a palavra certa, mas é o que tenho por hora. Formamos um vínculo memorial e sentimental com pequenos elementos, seja  o que for, damos a ele significado. Pode ser algo coletivo como as peregrinações, colocar o santo de cabeça pra baixo no copo d’água, ou individuais, como meu bem estar por saborear um simples alimento que talvez a outros passasse como nada mais que banal, assim como o contrário.


Algo é perfeitamente certo, é impossível passar por esse mundo completamente alheio as pequenas sensações. Somos seres idealizadores, nostálgicos, pequenas coisas nos trazem sensações antigas maravilhosas que queremos tanto reviver, então materializamos em sabores, cheiros, sons que poderemos um dia novamente sentir e dessa forma tocar aquele passado bom que não volta. 

sábado, 27 de dezembro de 2014

Canto a Lua

Ode a eterna e majestosa Lua,                                                                                                                 que nos guia na passagem dos anos,     
que encantadora ilumina quando Sol se vai                                                       
e faz brilhar os romances de meia noite.
Aquela que atenciosa acolhe os aflitos na                                                                                           madrugada e ouve seus desejos e receios.
Canto a Lua, que a mim muito se assemelha,                                                                            
com suas fases, suas constantes e inesperadas mudanças.                                                             
Seu brilho cintilante, não tão forte,
 mas sempre delicado, as vezes, conflitante.
Delicada beija a terra e a cobre em luz fina e serena,                                                                
como manto de pura seda.

Permanece distante de nós, como um marco,                                                            
um farol que ilumina a nossa grande solidão.

terça-feira, 16 de dezembro de 2014

Liberdade Nem Um Pouco Minha


Sua liberdade é tão maior que a minha, 
tão mais doce, mais complexa, cheia de amores. 
Quando te vejo não é por você que queimo 
e sim por ela, tão linda, mais que perfeita, é divina. 
Tocar você é busca-la, beijar você é só tentativa de rouba-lá. 
Me apaixonei por ela, morro de desejos de tê-la, abraça-lá, 
desfrutar de suas virtudes, mergulhar em sua graça. 
Temo admitir que isso é apenas um grande devaneio, 
nunca a terei, ela é musa imaterial. Intocável as mãos, 
imperceptível aos sentidos, ela somente a ti pertence e
nada que eu faça poderá mudar esse fato, inato a ti.
Mesmo sabendo que esta presa e nunca sera minha, 
não conseguirei deixar de quere-la só pra mim.