Um belo dia de sol, amanhecer esplendoroso, poucas nuvens
ousam manchar os céus. O verde vivo das folhas nas árvores fica nítido ao
brilho dos raios desse sol, só existem motivos para felicidade. Em uma árvore
com algumas dessas folhas verdejantes um simples e belo bentevi fez seu ninho à
alguns dias, já era tempo e momento para os belos ovinhos eclodirem e trazerem
ao mundo novos cantos.
O pássaro estava impaciente, sentia que a qualquer momento
seus filhotinhos sairiam dali e ansiava por vê-los, saber como seriam,
ensina-los a vida de passarinho, os cantos mais lindos da floresta. Não
precisou esperar muito, olhando os ovinhos viu que um deles parecia estar
rachando, ficou eufórico, quis ajudar, mas também ver até onde aquele novo
serzinho poderia ir nos seus primeiros momentos de vida fora de sua proteção
maternal. Aguardou e não se decepcionou, logo o bichinho consegui por pequena
cabeça pra fora e soltar um pequeno ganido que encantou a sua amável mãe.
Seguindo este o outro ovo começou a querer eclodir, após
ajudar o primeiro filhote o amável bentevi logo voltou-se para ele. Todavia o segundo filhote, ainda dentro
de sua mais pura proteção, parecia não conseguir o mesmo êxito em libertar-se
daquilo como o primeiro teve, o que deixou uma preocupação natural no ar.
Ligeiramente o tempo passa e nada do segundo filhote conseguir sair de sua
casca. Em um desespero de pensar que seu filhotinho não sairia nunca dali a mãe
mais que rapidamente e já incontrolável em suas ações começou a bicar com
rapidez o ovo até que viu a pequenina. Sim, era uma menininha, se assim podemos
dizer.
Tranquilamente seguem os dias após o episódio do nascimento
complicado, os dois filhotes vão crescendo perfeitamente saudáveis. Não demora
muito e chega o dia dos novos passarinhos aprenderem a voar para assim
completarem o ciclo sendo então independentes. A mamãe bentevi estava feliz,
porém preocupada, tinha medo por sua filhinha, tão jovenzinha que não conseguiu
sair do ovo ao nascer, pensava que talvez ela não conseguisse voar, que não
pudesse bater as asas no ritmo certo para alçar um voo, que se fosse assim
cairia em um abismo, não queria isso.
Na hora das aulas de voo, os dois filhotes estavam a
animados, o macho era um pouco maior aportava-se na ponta do ninho ponto a
saltar, sentindo que era capaz de qualquer coisa, a fêmea, pequenina e delicada
continha sua animação, mas desejava muito ver e saber tudo o que sua experiente
mãe tinha para lhe ensinar. Tomada por um medo infantil e sem poder adiar mais
tudo aquilo a mãe decidiu por algo radical, disse a sua jovem filhinha que esta
ainda não estava pronta e deveria esperar um pouco mais para a prender a voar.
A pequena ficou triste, mas não contestou a mãe, ficou por assistir as aulas do
irmão, desejando estar no seu lugar.
Em poucos dias o macho já voava feliz, buscava seu próprio
alimento, descobria a floresta, os animais, mas a pequena fêmea permanecia no
ninho, a cada dia uma nova desculpa recebia de sua mãe para adiar por mais um
ou dois dias suas aulas de voo. A
pequenina ficava a cada dia mais triste, pois admirava seu irmão e tantos
outros pássaros voando entre os galhos, despencando e em seguida plainando nos
céus e ela ali, não podia fazer o mesmo.
Algum dia desses, sem aparente motivo se cansou da situação,
decidiu aprender sozinha, jogar-se no abismo, achava melhor o risco de cair a
segurança de nunca se libertar. Sozinha no ninho, chegou a beira, olho pro
chão, a distância era grande, sentiu um medo subir pela espinha chegando
rapidamente a cabeça. Então olhou o céu e bem distante um pássaro a voar, foi
decisivo, sem pensar mais jogou-se, por alguns segundos deixou-se sentir a doce
sensação da queda e, logo, sem tardar decidiu bater as asas, foi natural,
seguiu voo como se fizesse isso à muito tempo. Sua alegria foi enorme, disparou
par a todos os cantos, subiu nos mais altos galhos, desfrutou do que sonhava a
tanto tempo, sentia que isso era o gosto da liberdade.
Não quis mais voltar, tinha medo de novamente ser presa por
sua mãe. Só pensava em respirar aquela emoção, queria conhecer, viver tudo o
que não pode naquele ninho o tempo todo resguarda pelo medo que nem era de todo
seu.
E se foi, por entre vales e montanhas, planícies e
planaltos. Os dias passavam e ela nem percebia, vivia feliz a cada nova
sensação, as vezes imaginava voltar, dizer a sua mãe que estava bem, no mesmo
instante vinha o medo, lembrava do tempo que ficara fora e não sabia como
voltar. Sentia que não havia mais um caminho.